segunda-feira, 7 de novembro de 2011

EM DEFESA DE UM CERTO PRECONCEITO



Sou o primeiro a lamentar quando não posso me aliar a bandeiras políticas tão bem intencionadas como a do “abaixo o preconceito”. Confesso que me constranjo quando tenho que enfrentar a expressão decepcionada de pessoas que me convidam entusiasmadas a fazer parte do último movimento para a salvação do planeta. Sofro por não fazer parte do coro dos contentes e sempre encontro algum problema com as cada vez mais exigentes concessões inerentes à vida em sociedade. Mas me consolo quando vejo pessoas vestindo slogans estampados em camisetas com os dizeres “100% Negro” e coisa e tal, já que pouca coisa supera tal idiotice.
O preconceito é um daqueles eleitos que abarcam todo tipo de execração pública, embora a maioria ainda cultive secretamente um ou outro de estimação. O pior é que ter preconceito de ter preconceito tornou-se quase tão obrigatório quanto o voto  a cada 2 anos no Brasil.
Não estou fazendo qualquer tipo de apologia a ideias racistas ou sexistas, mas acredito que é necessário restituir desse sentimento sua fidelidade de origem. Afinal, aceitar o endosso automático em repugnar o preconceito não seria uma forma de preconceito?
Entendo o preconceito como uma reação natural, resultado de uma informação parcial que se possui sobre algo. Deste modo, se estou numa sala de aula e alguém entrar repentinamente vestido de muçulmano com uma metralhadora na mão, despertará em mim uma cadeia de efeitos fisiológicos tais como uma descarga de adrenalina, causando taquicardia, respiração acelerada, sudorese entre outras_ bem antes que eu me pergunte se vai pegar mal ter as calças borradas por causa de uma avaliação equivocada baseada em valores eurocêntricos.
Isto é preconceito? Sim! Mas, com exceção daqueles que, apesar de todas as evidências, apóiam Fidel Castro e Hugo Chaves, quem é capaz de ter informações isentas e completas sobre tudo? Quem? Portanto, preconceito é um conceito preformado, ainda em fase de elaboração. O que deveria ser a regra da maior parte de nossos conceitos, haja vista a complexidade do mundo atual.
Obviamente que o problema está no modo como tratamos nossas concepções em fase de gestação. Alguns param neste estágio e jamais avançam. Outros são capazes de estabelecer conexões que se não a tornam completa, ao menos a enriquecem. Entretanto, nunca renunciam à dúvida e ao questionamento, caso contrário, nossas concepções se reduziriam à esquemas mentais autoaplicáveis a qualquer situação.
Acredito que para superarmos este enquadramento reducionista que leva ao entendimento pobre da realidade do racismo, por exemplo, baseado em suscetibilidades feridas é necessário pensar em discriminação. Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, mas ninguém está autorizado a discriminar objetivamente com base em suas preferências. Isto é, impedir o acesso ao trabalho, ao lazer, à educação e à  saúde.
No mais, todos somos preconceituosos.