quinta-feira, 2 de agosto de 2012


Um pouco da bela voz e da poesia cantada pelo senegalês Ismael Lô

domingo, 13 de maio de 2012

O EDITOR QUE PERDEU O NARIZ - UM CURTA DE EUSTAQUIO LAWA





Buscando livrar-se de apuros financeiros, editor faz acordo com Exu e não cumpre, sendo punido. Orientado pela entidade, tenta redimir-se preparando oferenda, mas acaba se envolvendo em arquetípica trama de orixás.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

DE ZÉ MANÉ A ESTUPRADOR




Para aqueles que idealizam um tipo de TV feita por intelectuais de esquerda sem rabo preso por interesses políticos ou destinada a pessoas sérias e castas que só pensam em assuntos relevantes, aquelas que nunca fizeram bobagens na vida e  que infelizmente não existem o Big Brother não é mesmo uma atração que valha a pena assistir.

Para o comum dos mortais _ Zés Manés, como diria o apresentador Pedro Bial _ só nos resta reconhecer que assistimos sim ao BBB. No meu caso, além de tudo, confesso que gosto.  Consola-me saber que não estou só. Há mais de 10 anos, a fórmula dos reality shows, iniciada com o Big Brother, virou uma febre mundial. Faz sucesso em mais de 40 países e gerou uma série de outros programas baseados em seus princípios, ou na falta deles.

Para mim, o que fascina nesta proposta é justamente o que a torna incômoda e arriscada. Refiro-me em tornar a banalidade do cotidiano nua e imprevisível. Trata-se de uma contenda sutilmente arquitetada entre o que se manipula  e o que foge ao controle. Óbvio que há muito de combinado neste processo que vai desde a escolha do, vá lá!, elenco até situações flagrantemente  arranjadas com o olhar voltado para os anunciantes e o gosto da audiência. Entretanto, trata-se também de relações humanas, o que por si só já significa algo que implica inúmeras complexidades.  Não bastasse esse elemento explosivo, ainda estão em jogo (literalmente) pessoas envolvidas em um contexto em que situações extremas testam os limites e as possibilidades de cada um de uma maneira inteiramente superlativa.

Não é de hoje que as ciências psi vem estudando o comportamento humano em situações de confinamento. Claro que com outros objetivos, mas não com métodos tão diferentes assim. Contudo, penso que o que realmente interessa não é o que é pautado pelos objetivos das emissoras que o exibem, que, aliás, são muito claros, mas o que se pode ler nas entrelinhas. Acho que a TV, bem como todo o resto da realidade só se justifica se a lermos fora de sua literalidade. Este modo de ver TV exige telespectadores qualificados que não se prendem à qualidade do que é exibido, mas que são capazes de enxergar além do conteúdo aparente.

A chamada massa ignara que se sente rebaixada por esse apelo explícito ao prazer escópico, mostrou-se no propalado caso de estupro muito mais capaz de se posicionar criticamente do que querem seus candidatos a censores. Embora discorde de suas opiniões, é inegável que o desenlace das tramas não se dá passivamente, à revelia dos seus principais interessados. O público manifesta-se ativamente e faz dos temas principais e paralelos objetos de intenso debate. É assim que a sociedade constrói normas para dilemas contemporâneos, como o da relação entre segurança e privacidade.

Assim como para esta questão não há respostas definitivas, também no caso do suposto estupro há muito o que discutir. Não é possível que se estabeleçam julgamentos sumários baseados somente no valor normativo sugerido pela imagem do olho mágico de uma câmera de TV, desqualificando antecedentes e contextualidades. A carga emocional empregada nos debates travados põe de lado qualquer pretensão de neutralidade para determinar o destino de alguém que terá que conviver com o estigma e as conseqüências penais  de estuprador. Daniel, o acusado, pode ser a primeira vítima de um indisfarçável desejo de  vingar-se da emissora que exibe o programa por seu poderio e seus deslizes políticos no passado.

Por outro lado, o BBB tem cumprido uma função transversa na confusa auto-estima da população brasileira: todos desejam mostrar-se melhores ou superiores aos brotheres e suas ambições desavergonhadas. Condenar seus excessos, e sentir-se justificado para arbitrá-los, contemplando-os dia a dia, virou mesmo um esporte nacional, o que explica em parte seu sucesso.

Deste modo fica mais fácil lidar com o angustiante estreitamento dos limites que diferenciam o que somos capazes de fazer protegidos pelo anonimato e o que fazemos quando estamos sendo observados. Ou seja, nossos valores introjetados e aqueles expostos à execração pública. O que o Grande Irmão nos desafia é a assumir posições em público que nos isentariam no mundo dos Zés Ninguém (ou Manés, tanto faz) Ou ainda, redefinir os limites que nos preservariam da invasão predatória do Outro em nossa subjetividade.