quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

ENDORFINA PARA GENTE FINA


O UFC junto com seu maior astro no Brasil sofreu um duro golpe. Anderson Silva era mesmo um achado publicitário para vender a imagem de um esporte capaz de agradar a família inteira sem parecer tão monstruosamente violento quanto é na realidade. 
Simpático a ponto de assimilar com bom humor as brincadeiras com sua voz fina, sua aparência reúne ao mesmo tempo dois mitos radicalmente paradoxais sobre o Brazil e o brasileiro, sua cordialidade e seu tamanho ameaçador.
Por um capricho do destino, Anderson não carrega consigo um nome comum do brasileiro típico, tampouco possui algo tão peculiar. Alguns nomes convidam a uma certa intimidade, aderem a diminutivos supostamente carinhosos ou aumentativos respeitosos ou resignados. O nome Anderson pode ser escutado como um agigantamento sutil, meio afrancesado talvez, mas sem a tonalidade que lhe submeteriam ao preconceito de algo excessivamente requintado.Ou fresco mesmo. Silva, porém, não poderia ser mais comum. É a combinação de ambos que lanço mão para tentar explicar um quê de proximidade e afastamento respitoso que sua figura inspira.
Mas isto não seria suficiente se este gladiador moderno não deixasse evidente sua “fraqueza” vocal e seu talento para quebrar ossos alheios e, agora, os próprios.
Trata-se de um homem de família, com casamento estável, filhos e uma origem social “humilde”, como gosta de classificar o brasileiro. Enriquecido, manteve a postura simples e os laços sólidos com os valores do homem comum nascido nestas terras.
Por isto tudo, penso, podíamos torcer enlouquecidos pelo golpe final que pode ser uma devastadora pesada na cara ou um chute capaz de quebrar a preparada e musculosa perna do adversário.
Vale lembrar que, caso Anderson Silva não tivesse a infelicidade de ter errado o golpe que tanto nos compungiu, a vítima do mesmo mal, aí sim justificado, seria o oponente americano......
O que faz com que nos sintamos autorizados a desejar que o outro se foda sem nos importar do mesmo modo com as consequencias são misteriosas, mas não  inexplicáveis. Às vezes, nossa besta fera surge nos buracos da lei civilizatória que nos reprime, outras vezes sob suas regras conciliadoras de nossa ambiguidade vertiginosa.

Fica, portanto, a lição, para não esquecermos, de que o brasileiro cordial no fundo é uma fera enjaulada em convenções sociais apaziguadoras  e adestrado por técnicas de escambo do tempo da colonização.