O UFC junto com seu maior astro no Brasil sofreu um duro
golpe. Anderson Silva era mesmo um achado publicitário para vender a imagem de
um esporte capaz de agradar a família inteira sem parecer tão monstruosamente
violento quanto é na realidade.
Simpático a ponto de assimilar com bom humor as brincadeiras
com sua voz fina, sua aparência reúne ao mesmo tempo dois mitos radicalmente
paradoxais sobre o Brazil e o brasileiro, sua cordialidade e seu tamanho
ameaçador.
Por um capricho do destino, Anderson não carrega consigo um
nome comum do brasileiro típico, tampouco possui algo tão peculiar. Alguns
nomes convidam a uma certa intimidade, aderem a diminutivos supostamente
carinhosos ou aumentativos respeitosos ou resignados. O nome Anderson pode ser
escutado como um agigantamento sutil, meio afrancesado talvez, mas sem a
tonalidade que lhe submeteriam ao preconceito de algo excessivamente
requintado.Ou fresco mesmo. Silva, porém, não poderia ser mais comum. É a
combinação de ambos que lanço mão para tentar explicar um quê de proximidade e
afastamento respitoso que sua figura inspira.
Mas isto não seria suficiente se este gladiador moderno não
deixasse evidente sua “fraqueza” vocal e seu talento para quebrar ossos alheios
e, agora, os próprios.
Trata-se de um homem de família, com casamento estável,
filhos e uma origem social “humilde”, como gosta de classificar o brasileiro.
Enriquecido, manteve a postura simples e os laços sólidos com os valores do
homem comum nascido nestas terras.
Por isto tudo, penso, podíamos torcer enlouquecidos pelo
golpe final que pode ser uma devastadora pesada na cara ou um chute capaz de
quebrar a preparada e musculosa perna do adversário.
Vale lembrar que, caso Anderson Silva não tivesse a
infelicidade de ter errado o golpe que tanto nos compungiu, a vítima do mesmo
mal, aí sim justificado, seria o oponente americano......
O que faz com que nos sintamos autorizados a desejar que o
outro se foda sem nos importar do mesmo modo com as consequencias são
misteriosas, mas não inexplicáveis. Às
vezes, nossa besta fera surge nos buracos da lei civilizatória que nos reprime,
outras vezes sob suas regras conciliadoras de nossa ambiguidade vertiginosa.
Fica, portanto, a lição, para não esquecermos, de que o
brasileiro cordial no fundo é uma fera enjaulada em convenções sociais
apaziguadoras e adestrado por técnicas
de escambo do tempo da colonização.