quarta-feira, 3 de abril de 2019

Que tal trocar autoestima por auto respeito?


Particularmente, sempre tive uma birra com a palavra e o conceito de auto estima. O que penso que há de errado com este conceito é um salvo-conduto muito amplo, com um quê de auto comiseração. Acho que o amor por si mesmo é uma espécie de vilipêndio, tal como o ditado se refere sobre o elogio.
Na verdade, acredito que o amor romântico tal como concebido nas novelas mexicanas ou telas do cinema não pode ser transportado para nossa relação com o real de nós mesmos. Não vivemos o idílio arrebatador da paixão todos os dias por nossa imagem e pelo ser que construímos. Às vezes nossa relação com nosso ego é de estranheza e escárnio. Creio que nem sempre nos queremos por perto e às vezes ficamos mesmo apaixonados é com o ideal do outro. Desconfio que esse altar dedicado ao nosso próprio culto é o disfarce mal ajambrado desse egoísmo que marca nosso tempo. É mesmo curioso quando observamos a adesão entusiasmada que a contemplação da imagem narcísica de nossos egos recebe nas redes sociais . E por muitos que só sabem olhar para si mesmos.  
Fico me perguntando, quem terá a necessária coragem de apontar nossos defeitos de modo que a gente possa repensar nossas atitudes equivocadas, nossa covardia moral diante de decisões que somente nós podemos tomar? Nesse pacto das redes sociais em que o elogio é uma espécie de obrigação, o que escapa desse mal estar é na forma do terrorismo devastador dos haters anônimos.
Quero resgatar a ideia de respeito, porque não se confunde com o afeto permissivo, pressupõe um mérito inerente, algo que é digno de honra e consideração. O respeito é, para mim, a referência a uma Lei que se impôs pela autoridade, por sua condição superior. Não é um sentimento difuso, que se mantém com base numa aparência fugaz ou numa fragilidade amorfa e vazia. Respeito merece respeito, mesmo que você não o compreenda.
Prefiro, portanto, a ideia de auto respeito para dar conta minimamente de nossa necessidade de suportar a gente mesmo, ainda que diante de nossas contradições e retrocessos. É o respeito pela nossa caminhada que nos permite continuar. Podemos até parar, de vez em quando, ao acharmos que nossos passos nos estão levando a lugares já conhecidos demais. Por já ter trilhado por caminhos que nos levaram a muito pouco.
A clínica nos ensina que não é pela repetição obsessiva de um pensamento positivista que construímos uma noção sólida de respeito por nós mesmos. Antes, é pelo embate muitas vezes doloroso com nossa própria vontade de sujeição, e pela ação diária de afirmação de nosso desejo. Deste modo, acho que embora o medo paralisante do ridículo, da crítica, da decepção que podemos provocar no outro, haveremos de lidar com a sombra de nossas imperfeições. Porque é o único modo de fazê-las perfeitas.