Particularmente, sempre tive uma birra com a palavra e o
conceito de auto estima. O que penso que há de errado com este conceito é um
salvo-conduto muito amplo, com um quê de auto comiseração. Acho que o amor por
si mesmo é uma espécie de vilipêndio, tal como o ditado se refere sobre o
elogio.
Na verdade, acredito que o amor romântico tal como concebido
nas novelas mexicanas ou telas do cinema não pode ser transportado para nossa
relação com o real de nós mesmos. Não vivemos o idílio arrebatador da paixão
todos os dias por nossa imagem e pelo ser que construímos. Às vezes nossa
relação com nosso ego é de estranheza e escárnio. Creio que nem sempre nos
queremos por perto e às vezes ficamos mesmo apaixonados é com o ideal do outro.
Desconfio que esse altar dedicado ao nosso próprio culto é o disfarce mal
ajambrado desse egoísmo que marca nosso tempo. É mesmo curioso quando
observamos a adesão entusiasmada que a contemplação da imagem narcísica de
nossos egos recebe nas redes sociais . E por muitos que só sabem olhar para si
mesmos.
Fico me perguntando, quem terá a necessária coragem de
apontar nossos defeitos de modo que a gente possa repensar nossas atitudes
equivocadas, nossa covardia moral diante de decisões que somente nós podemos
tomar? Nesse pacto das redes sociais em que o elogio é uma espécie de
obrigação, o que escapa desse mal estar é na forma do terrorismo devastador dos
haters anônimos.
Quero resgatar a ideia de respeito, porque não se confunde
com o afeto permissivo, pressupõe um mérito inerente, algo que é digno de honra
e consideração. O respeito é, para mim, a referência a uma Lei que se impôs pela
autoridade, por sua condição superior. Não é um sentimento difuso, que se
mantém com base numa aparência fugaz ou numa fragilidade amorfa e vazia.
Respeito merece respeito, mesmo que você não o compreenda.
Prefiro, portanto, a ideia de auto respeito para dar conta
minimamente de nossa necessidade de suportar a gente mesmo, ainda que diante de
nossas contradições e retrocessos. É o respeito pela nossa caminhada que nos
permite continuar. Podemos até parar, de vez em quando, ao acharmos que nossos
passos nos estão levando a lugares já conhecidos demais. Por já ter trilhado
por caminhos que nos levaram a muito pouco.
A clínica nos ensina que não é pela repetição obsessiva de
um pensamento positivista que construímos uma noção sólida de respeito por nós
mesmos. Antes, é pelo embate muitas vezes doloroso com nossa própria vontade de
sujeição, e pela ação diária de afirmação de nosso desejo. Deste modo, acho que
embora o medo paralisante do ridículo, da crítica, da decepção que podemos
provocar no outro, haveremos de lidar com a sombra de nossas imperfeições. Porque é o único modo de fazê-las perfeitas.
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