sábado, 10 de setembro de 2011

O DESENGAJAMENTO POLÍTICO

Um dilema contemporâneo parece ser insistentemente ignorado pelos movimentos de massa. Particularmente os sindicais e de partidos políticos. As reuniões de sindicatos e de partidos de esquerda dão a impressão de um retorno ao passado de uma juventude eterna que se recusa a amadurecer. Toda discussão que é tratada parece confrontar-se com um tema subjacente que indaga estupefato: se nossa causa é tão justa por que não conseguimos o engajamento apaixonado de todos os interessados? Por que nossa convocação de revolucionar o mundo enfrenta tanta indiferença?
As explicações, é claro, existem, e todas se silenciam sobre a condição dos revolucionários, quase sempre tratados como seres providos de uma aura divina que os torna capazes de atravessar os condicionamentos sociais ditados pelo status quo, pelo Sistema ou pela Mídia. Ou seja lá que nome se dê para essa explicação totalizante que justifica a continuidade conservadora.
O fato é que os ideais coletivos, mesmo promovidos numa guerra publicitária insana ainda não parecem em condições de recrutar tantas adesões ou criar transformações consistentes. Ainda que estejamos colocando no bojo campanhas como Criança Esperança, Amigos da Escola, Dia do Voluntário e outras, exemplos de ações coletivas fortemente incentivadas, desde que desprovidas de reflexão politizada, e com a clara intenção de tão somente atenuar o desconforto causado pelas brutais diferenças sociais.
Se o apelo de vidas solitárias tem seduzido ainda mais jovens por todos os lugares, condição segundo a qual alguns especialistas preferem rotular como fobia social., por outro lado, jovens declaram em pesquisa que preferem realizar seus ideais de um mundo melhor a ganhar dinheiro. Mais valeria, a meu ver, perguntar quem pagará pelos custos da transformação social sonhada? E quanto ao celular de marca que fascina tanto essa mesma juventude? E o carro do ano? E o rolé com a namorada? Prevejo que irá sobrar para os pais ou o governo o financiamento do equívoco de imaginar que revoluções são feitas apenas com boas intenções e poderiam dispensar o vil metal.
As manifestações da chamada Primavera Árabe parecem a primeira vista desmentir tal desmotivação e dão novo fôlego a nostalgia dos anos 1960. Contudo uma análise menos afoita sugere que são ações pontuais, num contexto também diferenciado que carecem de uma análise mais aprofundada para sua compreensão, mas não devem passar do que se espera do efeito de uma inércia na forma de rebelião represada há tempos por ditaduras que se impuseram ou permaneceram à força das armas.
O mundo se complexificou em demasia, de tal modo que as tecnologias de dominação se sofisticaram tanto que se tornaram imperceptíveis, e as causas populares insurgentes parecem obdecer a um jogo de cartas marcadas. Penso que diante desse quadro é natural que se pergunte: por que se envolver se já está tudo pronto e acabado? Como deter a apropriação indevida de nossas mais ingênuas utopias?
Ao contrário do ritmo alucinado que as revoluções impõem, caberia pensar nas pequenas transformações cotidianas. Aquelas por meio das quais podemos refletir mais e performar menos. Aquelas que respeitem um pouco nossa limitada capacidade de assimilar as mudanças que vêm quer queiramos ou não.
Acho que a resposta para esses dilemas não está colocada, pois obviamente a solução não está na contemplação solitária do andar da carruagem política. Porém para que as laranjas se ajeitem é preciso fazer algo. Será que faremos?


Hippies nos anos 1960
Passeata no centro de São Paulo, em 16 de abril de 1984. Foto- Jorge H. Singh.






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