Nara e ciça
Nara e Ciça eram duas crianças
que viviam felizes
em sua bela aventurança.
E como tal, brincavam
com tudo que estivesse a mão.
Eram pequenas pedras, caramujos,
nacos de areia do chão.
Nara e ciça tinham
infindável imaginação.
Seus corpos franzinos
no meio da imensidão.
Por cima o sol poente,
cobrindo a tarde rubra
da pele macia e negra
nenhuma vergonha que lhes cubra.
A brincadeira também
se estendia a toda parte
e em cada descoberta
uma nova forma de arte
Meninas sapecas
diante de um lindo mistério
como é possível alguém
com graça ficar sério?
Elas se contorciam
de cócegas e risos
e tiravan troça
de qualquer juizo.
Suas mãozinhas
tateavam cegamente
no corpo uma da outra
o que faria rir de repente
Do ponto do riso
para da imaginação
muitas coisas inesperadas
vieram então
O que as mãos
descobriam lentamente
Foi um gosto novo
que do fundo vinha quente
E subia rumo ao ventre
num arrepio
deixando úmido
e latejante cada fio
que entre as pernas
despontava timidamente
Foi então que do tanque
de roupas interveio
a mãe num átimo
raivoso sem volteio:
“Que é que voces estão fazendo?”
Perguntou ela,
como se não estivesse vendo.
“Estamos brincando,
ora essa!”
Responderam as duas
sem pressa.
“Eu num quero que voces
brinquem desse jeito,
Pois na minha casa
exijo respeito!”
Nara e ciça
que nada entenderam
das maldades que a mãe
via ali no meio
e se assustaram com o arfar
gigante dos grandes
e entumescidos seios
que ainda vertiam
o leite que acabarm
de tomar
Das marcas de seu rosto
carrancudo
parecia evocar
um passado mudo
de quem foi
tão viva e bela
e agora vive
presa numa cela
feita de uma bolha
de material
incerto
que nunca fora
descoberto
alguns dizem que o
amor materno
bate as portas do
inferno
numa vida
cheia de recatos
e paixões consumidas
como em doze
atos
Nara e Ciça sentiram
então por dentro
uma coisa que
se fazia arrepiar
não era a ação
fria do vento
mas era algo estranho no ar
foi então
que decidiram assim
sem eira nem beira
como as coisas
que se decidem
por menos que se queira
deixar nem um pó
ou vertigem
coisas que sem nome
nos atingem
desse fogo
que ardia inclemente
se apagar docemente
e assim sumir
no mundo
sem dó
como quem cai
num buraco fundo
ou numa fundura
pior
pra voltar tão somente
quando tudo pudesse
ser diferente...
Nara e Ciça
não se esqueceram
uma da outra
nas voltas que
o tempo dá
mas deixaram
correr solta
uma vontade de
mudar
Deixar o mundo
sem embaraço
onde somente a
a poesia pura
pudesse ter laço
na ternura
e na verdade do
olhar
Onde duas
crianças pudessem
amar
sem vergonha de
sonhar
E neste
mundo sem fim
nada mudasse o
jeito de ser assim
inocente e livre
das crianças
que vem nos lembrar
que a esperança
não pode nunca
se acabar
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