quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O gás da indignação


O vai-e-vem das decisões judiciais que tem marcado o caso do Condomínio Habitacional Cingapura e do Shopping Norte em São Paulo é mais um daqueles episódios emblemáticos que retratam o modo de funcionamento de um país.
Construídos no terreno de um antigo lixão há cerca de 16 anos, técnicos da Cetesb, revelaram que o acúmulo de gases resultante da decomposição dos resíduos ali aterrados poderiam causar a tragédia de uma explosão. Há pouco menos de um ano das próximas eleições municipais, a repentina vulnerabilidade descoberta gerou uma guerra de pareceres técnicos, cujas interpretações  vão do risco relativo ao desastre iminente.
Num curtíssimo espaço de tempo, novas medições renunciaram ao apocalipse profetizado para uma alternativa politicamente conveniente que prevê a instalação de dutos que drenariam os gases ameaçadores.
É grande o mistério que orienta a formação de convicção dos juízes para a expedição de seus veredictos, a despeito da avaliação dos setores responsáveis,  que garante a atividade lucrativa do sacrossanto templo do consumo freqüentado por milhares de pessoas. Também causa espécie a certeza que mobiliza outras centenas na tentativa desesperada de garantir a permanência em sua moradia num condomínio de classe baixa que solta puns flamejantes __ uma das moradoras afirmou num dos noticiários da TV que nunca viu os tais gases.
A população que, perplexa, observa de longe não sabe onde canalizar sua angústia diante dessas pequenas demonstrações de desrespeito e descaso para com a vida humana. Os diretamente envolvidos têm de optar entre confiar em juízes que na condição de servidores públicos  jamais terão que responder por suas decisões equivocadas  ou em profissionais que não compreendem que sua racionalidade técnica provoca impactos decisivos na vida de gente simples.
Quem sabe se um dia não será a indignação cidadã que explodirá?





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