terça-feira, 5 de abril de 2011

A DISCUSSÃO RACIAL PRECISA DE MAIS MASSA CRÍTICA


Nos ultimos dias dois personagens exemplares do que existe de mais nefasto na política brasileira ganharam uma projeção na mídia muito acima do mérito que tiveram em todo o período em que exerceram seus dispensáveis mandatos.  Julio Campos e Jair Bolsonaro, ambos  deputados do DEM, foram pegos em mais uma de suas declarações infelizes, mas com efeito certeiro na mídia.
Ao contrário das reações indignadas que sucitaram, desejo ponderar apenas que acho absolutamente natural que ambos os deputados expressem o que pensam, ainda que tais opiniões sejam contrárias ao padrão de ideias atualmente aceito. Isto é na verdade o que se espera de homens públicos que honram seus mandatos. O que me parece desproporcional É a cobertura que se oferece a algumas dessas espertezas calculadas para criar manchetes e promover mandatos. Sim, há muito que se sabe que falar bem ou falar mal de um político equivale a praticamente a mesma coisa. Quem não conhece o velho ditado:  “Falem mal ou falem bem, mas falem de mim” . Fixado mesmo na memória do eleitor comum, provavelmente o grande contingente que elege estes senhores, é apenas o nome do político num contexto de grande repercussão. Os demais eleitores provavelmente concordariam com suas ideias, ainda que não as defendessem publicamente. O que está em jogo não é a eficácia informativa daquilo que se noticiou, mas a seqncia  de processos desencadeada.
Há muito que a imprensa parece ter perdido a capacidade de distinguir o que É notícia  do que É marchandising. A entrevista do deputado Bolsonaro a um programa de TV, por exemplo, rende boas  audiências, vendas de jornais e revistas, além de prestígio aos produtores, exibidores, patrocinadores e toda gama de  interesses que gravitam em torno desse produto midiático. Trata-se tão somente de uma fonte de recursos que alimenta a outra, num processo contínuo e estéril para a verdadeira reflexão.Parece-me, portanto, inútil e ingênuo que segmentos supostamente críticos da sociedade se engajem nesse comércio de  factóides. Diria mais, acho que os representantes do povo deveriam ser estimulados a dizerem claramente o que pensam. Quantos não são aqueles que portam lindos discursos embrulhados em papel de presente, mas comportam-se exatamente ao inverso? Quem sabe assim não agregaremos mais massa crítica a discussão racial no Brasil? Só assim será possível superar o joguinho das sucestibilidades feridas a que o debate ficou reduzido.

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