terça-feira, 5 de abril de 2011

JOSÉ ALENCAR E AS LÁGRIMAS DE LULA

As redações dos jornais finalmente deram fim ao cabedal de matérias de pesquisa previamente elaboradas para o falecimento do ex-vice presidente José Alencar. Sua canonização do mesmo modo tambÉm seguiu seu curso previsível. Nada com o que se surpreender diante do ritual masoquista a que somos submetidos em circunstâncias como a que envolvem o enterro de um político com honras de chefe de estado.
Em nossa história recente vimos outros casos semelhantes como o de Vargas, Juscelino, Tancredo e outros tantos mais ou menos populares. No cipoal de curiosos, amigos, oportunistas, guardas presidenciais,  aspirantes a herdeiros e sobretudo políticos já estaríamos acostumados a este ritual se nenhum desses funerais talvez tivesse revelado emoção mais genuína que a de Lula. Suas lágrimas compungidas ao saber da morte e diante do caixão fizeram-me repensar sobre  o papel deste homem que se foi e lança também algumas luzes sobre o homem que fica.
Na condição de alguém que não possui qualquer parentesco com o ex-vice-presidente, Lula ultrapassou os limites do que se espera do cumprimento de um simples  dever de formalidade. Suas lágrimas vertiam muito mais que o sentimento pela perda de um aliado fundamental em sua escalada para a Presidência. Por mais que a imprensa insistisse em igualar a emoção de Lula a de  Dilma, algo nas lágrimas do ex-presidente assombravam as câmeras acostumadas a dureza e a falsidade. Como imaginar uma cena dessas no funeral de Aureliano Chaves, por exemplo? Lembram-se que o então presidente Figueiredo foi escorraçado do velório pela família do morto?
Lula que tantas vezes desqualificou a importância da herança que recebeu ao insistir  no  “nunca antes na história deste país”  parecia render-se ao reconhecimento de um pai. Pai é origem, é lei. A emoção do  ex-presidente revelou o sentimento de perda que só os filhos deserdados sentem. Perda do pai que foi capaz de fazer uma aposta em seu destino, ungindo-lhe de uma falta irreparável. Pai que o ex-presidente talvez nunca tenha tido de fato. Agora sim, nunca antes na história...

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