terça-feira, 26 de abril de 2011

A FANTASIA REAL E O REAL NA FANTASIA


William e Katy - Getty Images


O mundo se prepara novamente para viver uma invasão da fantasia dos contos de fada na dura realidade de uma época marcada por escancaradas injustiças.  Ainda que seja um sonho que onere em milhões de libras o erário britânico às custas do contribuinte inglês. Talvez por isto mesmo seja tão imperativo sonhar.
Mas ainda seria compatível com as noções contemporâneas  de igualdade a simples ideia de que  a  maioria da população possa sustentar uma existência privilegiada, cercada de mimos e luxos como a dos soberanos ingleses? Também seria possível imaginar como plausível dotar toda sua família dos mesmos privilégios pela obsoleta justificativa de uma linha de sucessão baseada no sangue? Colocado desta maneira poderíamos até supor apressadamente de que falamos de uma daquelas inacabáveis ditaduras de países africanos ou asiáticos, cujas dinastias estão ameaçadas de deposição como efeito do que fomos levados a acreditar que é a mobilização de seus povos.
Estas suposições caem por terra, pois o país em questão é um dos mais desenvolvidos do mundo. E não apenas conformados a fazer disso uma tradição local com seu poderio econômico hipnotizam milhões de telespectadores para a contemplação de sua ostentação levada a níveis histéricos, mas retratada como bela e aceitável.
Na verdade, tal acontecimento coloca-nos a pensar sobre a validade de tais ideais a serviço de uma racionalidade que não possuimos. Aspiramos à igualdade, mas na intimidade desejamos ser reis ou rainhas. Estão aí as placas dos estabelecimentos comerciais por mais simples que sejam  a não nos deixar esquecer: “o rei do sanduíche”, “a rainha do aviamento”, “o príncipe dos colchões”... Também na cultura popular há referências às figuras nobiliárquicas pela consagração do rei Roberto Carlos, o rei Pelé, o rei Momo e os reis de Congado, só para citar alguns exemplos. Tais recorrências animaram certos monarquistas tupiniquins a propor sem sucesso a implementação do mesmo modelo no Brasil. Não há dúvidas de que a força atávica de um modelo de perfeição encarnado em reis e rainhas resiste até hoje. E é bem provável que nos remeta ao ideal de pai e mãe  que nos acalentou em nosso desamparo existencial.

Caberia então insistir na pergunta sobre quanto vale a fantasia para nos fazer acordar? Ou o que se perde ao fantasiar de forma tão desapegada de um mínimo de bom senso? Qual o quê! Não é a razão o mediador da prodigalidade que dá motivo e sentido à vida na coroa britânica e faz a alegria dos súditos.
Trata-se de um arranjo político que evitou o confronto com uma alternativa mais radical de rupturas indesejadas, mas que caiu no gosto popular. Hoje, serve de anteparo frente ao encontro amargo com o real da vida cotidiana. É também uma aposta imaginária na superação da mediocridade pela posse de bens caríssimos, padrões de vida elevados e por uma existência que não dependa unicamente de nossos limitados esforços, mas legitimado com o nascimento.
Quem não quer?

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